A obesidade é uma doença crônica, de evolução lenta que acarreta uma série de complicações psíquicas, físicas e emocionais.
Hoje, nos deparamos com muitos tratamentos que objetivam a perda de peso e a retomada de saúde.
A cirurgia bariátrica tem sido atualmente uma das alternativas mais vistas, para aqueles que almejam alcançar o tão sonhado corpo “magro”.
Esses indivíduos crescem influenciados por uma sociedade faminta de afeto, de cuidado, de escuta e de compreensão.
Percebemos uma competitividade exacerbada, empobrecida de significados e, contaminada pelo mito da beleza física como retrato de prestígio social e poder.
Por isso a importância de discutir a relação entre a saúde mental e o tratamento da obesidade. Buscamos esclarecer o porquê as pessoas obesas necessitam de um acompanhamento psicológico.
Saúde mental e tratamento da obesidade
Aqueles que distanciam dos padrões estipulados pela sociedade, em especial os obesos, carregam uma tarefa inglória e mutiladora.
Eles são obrigados a superar o preconceito e buscar o reconhecimento a todo custo, a fim de que sua condição física possa ter menos impacto diante do coletivo.
O problema alimentar vem, assim, como muitos outros sintomas perturbadores desta doença, assinalar a necessidade de que a psiquê tem de ser vista e amada.
A obesidade é reflexo de um sintoma de fome de amor não saciada, de raiva não expressada, do medo de rejeição e solidão, escondidas por um silêncio “recheado” de comida.
Assim, o alimento é visto como além dos aspectos fisiológicos, um substituto e compensação.
As normas impostas pela sociedade atual, pela mídia é de que, hoje, só é feliz quem é “magro”. Esse pensamento exerce fortes influências sobre a percepção da imagem corporal.
Dessa forma, a distorção desta imagem, é uma das consequências pós-cirurgia bariátrica.
E isto porque muitos obesos recorrem ao procedimento cirúrgico. Eles acreditam que ele será a solução de todos os seus problemas, uma “luz no fim do túnel”. Por isso a necessidade de discutir a relação entre a saúde mental e o tratamento da obesidade.
A cirurgia bariátrica e a saúde psicológica
A cirurgia é apenas uma das alternativas para a redução do peso, melhora da qualidade de vida e saúde.
Isso porquê, a obesidade mórbida e suas comorbidades associadas podem levar o paciente à morte, se não bem tratada e diagnosticada.
O preparo psicológico envolve o levantamento de dados históricos pessoais e dados da história familiar. Ocorre uma análise do que é pertinente ao fator obesidade do indivíduo e o que está sendo projetado na obesidade e na verdade não lhe pertence.
Muitas vezes, os pacientes colocam expectativas depositadas no emagrecimento que não serão cumpridas com a perda de peso.
Isso porque elas dizem respeito ao tratamento de um quadro depressivo, ansioso, ou mesmo de um processo de imaturidade diante da vida.
Frustrações com os resultados cirúrgicos devido às expectativas mal colocadas tendem, a atribuir à cirurgia culpabilidades que não lhe cabem.
Não é raro ouvir um comentário de que alguém deprimiu com a cirurgia bariátrica quando a depressão já estava na entrevista pré-operatória.
O paciente deve saber que cirurgia para perda de peso não trata pânico, depressão ou transtorno bipolar. Esses transtornos devem receber tratamento paralelo à cirurgia.
Qualquer psicólogo que já tenha atuado no campo das cirurgias e, em especial, na cirurgia bariátrica, recebe pacientes que chegam como quem busca retirar um mal. Ou como quem quer reformar uma roupa que não lhe cai bem.
O paciente muitas vezes quer sair da sessão sem aquele defeito, ou mazela. Ele quer fugir de questões maiores ou reflexões sobre causas ou efeitos das reformas realizadas.
Este tipo de paciente exige do psicólogo um trabalho bem específico.
Ele inclui: o estudo da fisiologia, da psicopatologia, da genética, dos modelos relacionais de casal e familiares e também do trabalho em equipes multidisciplinares.
E é na avaliação feita pelo profissional que o paciente pode falar dos seus sentimentos. Suas angústias, expectativas e a buscar dentro de si a compreensão de sua doença.
Além de reduzir a angústia do indivíduo relacionada à cirurgia, esse processo aumenta a possibilidade de que o paciente vincule ao tratamento psicológico pós-operatório.
A avaliação psicológica tem também um caráter preventivo, pois pode indicar riscos nestes pacientes.
Por exemplo, ele não ter tendência a respeitar as orientações médicas com relação à algumas orientações. Como alimentação, atividades físicas e acompanhamento após a cirurgia.
Por isso a saúde mental e o tratamento da obesidade necessitam de um acompanhamento direto e minucioso.
O pós operatório e o tratamento psicológico
No pós-operatório ocorrem mudanças rápidas tanto relacionadas aos hábitos alimentares. Já as mudanças na própria imagem corporal exigem do paciente uma reflexão, emergindo as próprias questões emocionais.
Para emagrecer, efetivamente, é preciso preparação e reorganização da vida.
Eliminar a obesidade mórbida e permanecer não-obeso é uma condição que exige aptidão, habilidade e aceitação para lidar com a nova realidade corporal.
Após a intervenção cirúrgica é preciso uma nova corporeidade, mais consciente, mais responsável.
As pessoas poderão beneficiar-se da cirurgia, desde que, consigam desenvolver maior autonomia e responsabilidade pelo cuidado com a própria vida.
Elas devem compreender que tornar-se magro e com um corpo “aceito” pela sociedade não implica a solução final de todos seus problemas.
O tratamento psicológico irá contribuir durante todo o processo de emagrecimento. Antes e depois da cirurgia bariátrica é necessário que o paciente seja acompanhado por um psicólogo.
A saúde mental e o tratamento da obesidade devem ser analisadas em conjunto. Esse é um ponto crucial antes da realização de qualquer cirurgia ou recurso médico contra a obesidade.
Deixe um comentário